sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Cairo, as pirâmides e o nascimento da arquitectura


O Cairo prolonga-se quase até aos vértices da base da pirâmide de Quéops, mas antes surge abrupta e intimidante a cor dourada do deserto. De um lado, as pirâmides parecem ultimar a cidade, do outro parecem três montanhas solitárias habitando o mais distante de todos os lugares. Talvez porque percepcionamos as pirâmides já desde longe e a sua aproximação se faz lentamente, não se sente o peso da sua dimensão. Parece que estão ali há muito e que fazem já parte da superfície infinita do deserto
O que impressiona é imaginar o esforço dispendido há 4 mil anos, com técnicas rudimentares na construção daquilo que é apenas um túmulo funerário. Um túmulo que era sobretudo a morada infinita da alma. O lugar inamovível da eternidade, longe da textura indelével das areias do deserto ou dos ciclos imprevisíveis do Nilo.
Mais que simples túmulos, as pirâmides foram construídas para acompanharem a alma na sua viagem pela eternidade após o derradeiro julgamento de Osíris. Ultimam toda a civilização do Nilo, no seu desejo de superar a indelével intermitência da vida, construindo em granito os símbolos dessa consciência humana do tempo e da história. Mas também, da arquitectura como elemento fundamental estruturante do homem, na vida e para além da vida. As pirâmides são a fundação da arquitectura.

imagem. pirâmide de quéfren (julho 2007)
pedro levi bismarck. agosto 2007

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